Bem
me quer. Arranco uma pequena planta do seu pequeno espaço de repouso, para
tentar me convencer por uma antiga superstição do seu interesse por mim. Seu
nome e rosto ecoam na minha mente e de repente toda a paisagem na minha frente
não chega aos pés do fio de memória que emana como um filete de alguma nascente
de água, sem pedir permissão de onde brotar e da intensidade que surgirá. Curvo
me em direção ao solo e sento na terra onde sei que em algum lugar você
involuntariamente toca o chão. Me sinto conectada com toda energia de movimento
e de tempo- espaço que me ligam a você de alguma forma. Puxo a primeira pétala.
Ela se vai ao vento de encontro ao chão. E então começo a ter outra visão de
você.
Mal
me quer. Em algum lugar da minha alma, sinto o rasgo de outra cicatriz entre
tantas ao pensar em você. Ao mesmo tempo em que sua forma nos meus pensamentos
é um escape da minha realidade, ela também é o caminho para o poço do meu
próprio desespero. Não estar com você ao meu lado me estilhaça a cada dia que
eu levanto. Não ouvir sua voz me deixa em completa agonia. Eu tenho inveja do
chão que sente o peso do seu corpo, coisa que eu podia estar sentindo enquanto
você estivesse dormindo em meus braços entre carícias e sons atrativos. Retiro
a pétala e meu pensamento se esvai assim como quando assopram a chama de uma
vela e a fumaça se extingue pelo ar, não restando nada.
Bem
me quer. Os pensamentos confortáveis dos pequenos momentos que passei contigo
retornam aquecendo meu ser, como uma lareira aquece as pessoas em um dia frio.
Lembrar do seu olhar me tratando como prioridade e ao mesmo tempo cativando o
meu eu, faz com que um breve arrepio percorra minha espinha. O modo como suas
palavras saem da sua boca e seus lábios se movimentam, fazem eu o desejar de
forma indescritível. Cada momento parece acontecer em câmera lenta e eu sinto
me ansiando para que sua companhia pare o tempo ao meu redor e cada segundo ao
seu lado dure eternamente. Seu toque é tão firme e ao mesmo tempo singelo me
deixam embriagada pela sua essência física e curiosa em descobrir sua
personalidade interior. Eu gosto de como sinto-me interessada e curiosa para ser,
estar e conhecer você. Foi-se mais uma pétala.
Mal
me quer. Um balde de agua que parecia mais um oceano de razão apaga a lareira
que estava a queimar e preencher meus pensamentos com coisas boas. Eu retorno
ao pensamento inicial de que eu precisei arrancar uma planta e acreditar em uma
superstição por um breve momento para ter certeza dos seus sentimentos por mim.
Até o momento tudo que eu senti e lembrei foi apenas uma via de mão única, onde
só eu lembro de você, escalo montanhas e mergulho no mar mais profundo sem medo
de afogar-me por um simples olhar seu. Eu me corro-o por cada atenção sua que
eu tento despertar e não consigo. A ânsia de compartilhar os fatos do meu
cotidiano na esperança que você puxe uma fagulha de assunto comigo e me faça
conhecer um pouco mais de você me atormenta até o ultimo segundo de cada noite.
Removo a última pétala.
Percebi
então que eu acabara de matar um trevo de quatro folhas. O qual pela
superstição me traria sorte se eu o levasse comigo. Mas reconheço que a sorte
já havia sido construída e derrubada naqueles poucos segundos cheios de alivio
e dores, o qual me fez entender que todo o meu interesse por você havia sido
levado pelo vento e acolhido ao chão. Sustento de vida, mas alento para tudo
que morre e vira passado.
Samantha C.S.Costa
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